“Às vezes, um charuto é só um charuto.” O medo do Ato Falho.


Existe um medo secreto entre estudantes de psicologia (e, convenhamos, entre muitos de nós na vida pessoal): o medo de que cada tropeço na fala seja uma confissão secreta do inconsciente.

Em uma roda de conversa recente, um estudante brincou que iria adotar a abordagem Comportamental (AEC) “simplesmente pelo medo que eu tenho da ideia de ato falho ser real”.

Quem nunca trocou o nome do atual pelo do ex? Ou chamou a professora de “mãe”?

A ansiedade é real: será que meu inconsciente está tentando sabotar minha vida? Será que sou secretamente apaixonado pela minha professora de Estatística?

Calma. Às vezes, um charuto é só um charuto.

Essa famosa frase, atribuída a Freud (embora a autoria seja debatida), resume perfeitamente a questão.

Nem toda troca de palavras é um “vislumbre do inconsciente recalcado”. Às vezes, é cansaço. Às vezes, é uma semelhança fonética (como trocar “mãe” por “amor” se você chama ambos de “mô” ou “má”).

Como um psicólogo bem pontuou: “O ato falho é uma construção subjetiva a ser trabalhada no contexto de uma análise.”

Ou seja: ele só tem significado se fizer sentido dentro da sua história, no contexto seguro da terapia. Fora dali, na mesa do bar ou na sala de aula, na maioria das vezes “não tem o que interpretar”, é só para rir um pouco.

Quando o Ato Falho importa?

Ele importa quando revela um padrão. Se você sempre troca o nome do seu chefe pelo do seu pai em momentos de autoridade, talvez valha a pena investigar isso na sua própria terapia.

Mas viver com medo de cada palavra trocada é uma paranoia desnecessária.

Nosso cérebro é uma máquina complexa de associações. Às vezes, os fios se cruzam por pura proximidade (você corrige seu cachorro usando o nome do namorado porque ambos começam com ‘A’ e você ama os dois). Isso não é perverso; é humano.

No MOA, acreditamos que a psicologia deve ser uma ferramenta de liberdade, não de medo.

Não tenha medo da sua própria mente. E se um “ato falho” te deixar curioso, leve-o para onde ele pertence: para o divã (ou para a cadeira da TCC), não para o tribunal da sua autocrítica.

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