“Psicanálise é pseudociência?” Por que essa pergunta ainda assombra a clínica.


Vamos começar com uma cena real: um homem, dizendo-se “graduado em psicanálise”, coloca alunos do ensino médio em uma cadeira com uma “máquina de medir estresse” enquanto colegas sussurram em seus ouvidos.

A cena, compartilhada em um fórum online, terminou como esperado: “não deu em nada”. A conclusão do aluno foi inevitável: “Me fez questionar a seriedade da psicanálise”.

Essa história é o exemplo perfeito de como o charlatanismo alimenta a confusão pública e mancha a reputação de profissionais sérios.

A pergunta “Psicanálise é pseudociência?” raramente surge da leitura de Freud, Klein ou Lacan. Ela surge da observação de práticas duvidosas, da falta de regulamentação na formação de psicanalistas no Brasil e de uma incompreensão fundamental sobre o que é o método científico nas ciências humanas.

O “Problema” do Método

A crítica mais comum é: “Qual o método científico que ela usa? Ciência tem que ser demonstrável.”

O debate é válido. Se o seu conceito de ciência exige um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e mensurável (o método positivista), então não, a psicanálise não se encaixa. Mas, sejamos honestos, a maior parte da complexidade da psicologia clínica também não.

Como um dos debatedores colocou, “humano não é organismo e não dá pra entender a subjetividade usando régua e tubo de ensaio”.

A psicanálise é, por definição, o estudo do subjetivo, do inconsciente, da linguagem e do “dito não dito”. Ela nunca se propôs a ser “científica” nos moldes da física ou da química. Como o teatro, a psicanálise é uma prática rigorosa que se realiza no encontro, e neste caso, entre analista e analisando.

A confusão aumenta quando lembramos que o próprio Freud tinha um pé na neurologia e buscava validar a psicanálise como ciência nos moldes do século XIX. Foram pensadores como Klein e Lacan que aprofundaram seu aspecto como campo filosófico e linguístico.

O Verdadeiro Risco: A Falta de Regulamentação

A discussão se “psicanálise é filosofia ou ciência” é um debate acadêmico saudável. O problema real, que afeta o paciente e o profissional sério, é o charlatão.

Como outro participante da discussão apontou:

“Tive uma decepção tão grande em ter uma psicanalista na família que sequer fez psicologia…”

No Brasil, a falta de regulamentação permite que qualquer pessoa faça um “cursinho de 2 semanas com um Coach” e se intitule psicanalista.

São essas pessoas que usam “máquinas de estresse” em escolas. São elas que tratam os textos freudianos como dogmas literais, e não como pontos de partida para uma análise complexa.

Como o profissional sério se posiciona?

Enquanto o público busca por “psicólogo usa jaleco?” ou “o que faz um psicólogo?”, a nossa responsabilidade é educar.

Não se trata de “vencer” o debate se psicanálise é ciência ou não. Trata-se de demonstrar rigor clínico.

O rigor do psicanalista sério não está em um tubo de ensaio. Está:

  1. Na sua própria análise pessoal.
  2. Nos anos de estudo teórico contínuo.
  3. Nas horas de supervisão clínica.

A psicanálise não é pseudociência. Mas ela é um campo fértil para pseudoprofissionais.

No MOA, estamos construindo um ecossistema que valoriza o profissional sério. Nossa plataforma é desenhada para destacar sua formação, sua abordagem (explicando-a ao paciente) e seus anos de experiência — não “reviews” superficiais.

Cuidamos de quem cuida, e isso começa por proteger o espaço clínico do charlatanismo e da confusão.